Thursday, May 24, 2007

A Consciência mata a Acção!

Hoje reparei num graffiti ou grafite numa das paredes da Estação de Comboios de Entrecampos, pequeno não mais de quarenta centímetros de diâmetro, com a figura de Che, o Guevara, a tal fotografia de Alberto Korda, e por baixo uma inscrição que afirmava:
-A consciência mata a Acção!
Sorri; de relance pareceu-me ser uma afirmação verdadeira, contudo depois com calma perguntei-me, será verdade?
À primeira vista sim!
O que me impede de cometer esta ou aquela acção é sem dúvida a minha consciência mesmo que essas acções sejam ilegais eu posso sempre cometê-las bastando para isso ter rédea solta por parte da dita consciência.
Importante é definir a Acção e com conhecimento da Consciência elaborar um acordo, que a vida demonstra poder ser quebrado, onde se estipule quando se deve ou não aniquilar a Acção;
Que acções podem ser graves quando não cometidas? Que acções são graves quando cometidas?
Associada a frase à imagem de Che, a “acção” só pode significar “Acção Revolucionária” e o significado de tal acção é tão amplo como o de um Dicionário analógico mas referente a Che significa pelo menos, Luta Armada e Sacrifício para a realização objectiva de um Ideal.
Está Portugal necessitado de uma Organização Armada para a realização de um Ideal? A Acção Revolucionária sem luta armada modifica a sociedade?
Acredito existir duas maneiras de se tentar alterar o percurso político de uma Sociedade, ambas revolucionárias;
-A imediata com recurso à Força, é a única que permite obter mudanças radicais em uma única geração, permite ainda não ser vivida por muitos que tombaram na luta, será sempre uma Revolução encabeçada por sobreviventes, no entanto o tempo de duração das simpatias pode ser de curto prazo; a outra forma será,
-A da Tolerância, nesta, os efeitos da Revolução serão sempre vividos por outros nunca por nós pois é da nossa própria tolerância que brota a alteração política, como está fácil de ver são necessárias várias gerações de pessoas do Povo Tolerante para originar uma geração de Políticos Tolerantes só após este alcance da Tolerância sentirá o Povo a responsabilidade de ser Livre.
Claro que ambos os caminhos reflectem acções, encontrando também em ambos, sacrifícios por acção ou por inacção, da mesma maneira, quer um como outro surgem por escolhas da Consciência sendo esta voz interior, orientada na grande maioria das Sociedades por Movimentos Políticos, em determinada altura minoritários mas que depressa conquistam as consciências da maioria da população.
É uma questão de escolha:
A Revolução Para Mim ou a Revolução Para os Netos!
Para Mim! Significa “Acção Já” com todos os meios necessários e todos os meios conhecidos sejam eles legais ou ilegais.
Para os Netos! Tolerância, Responsabilidade, Contestação, tolerante com as diferenças de vida que cada ser humano escolhe, responsável, por uma vida com direitos iguais para todos, dos quais não se abdique, contestação, quando um humano que seja, tenha acesso a um direito que julgue ser só seu.
As Diferenças não conferem direitos! Temos o Direito a ser diferentes!
Em relação a direitos e diferenças muitos países seguem um caminho a que chamam de Discriminação Positiva o que não é nada mais do que dizer: já que não dou Educação a todos pelo menos distingo-os na “Lei”, atribui-se direitos a uns ao mesmo tempo discriminando outros como se passa com as Cotas para mulheres, os Lugares para deficientes e grávidas, os direitos especiais dos idosos, os direitos especiais de algumas doenças, os direitos especiais de algumas classes profissionais e todos os direitos especiais de que se possam lembrar.
Por mais justos que determinados direitos possam parecer serão sempre adquiridos por perda de direitos de outros, o engano é pensar que as descriminações, mesmo justas em determinado momento, significam Progresso!
A Civilização Humana progride quando tentamos, com a Força ou com a Tolerância, igualar direitos para eliminar descriminação, nunca por criação de Direitos Especiais que unicamente encobrem graves defeitos no Sistema Educacional de uma determinada Sociedade.
Todos nós nos levantaríamos para dar o lugar a uma grávida caso a preocupação desse momento fosse unicamente estarmos a ocupar o lugar de alguém, que naquele lugar se apresenta com mais uns quilos em cima e com as pernas numa lástima, necessitando desesperadamente de se sentar, sendo que o que verdadeiramente queremos é acreditar que o filho dessa senhora possa vir a fazer o mesmo à nossa filha, assim podemos transmitir um hábito, não um direito.
Com certeza, todos desejaríamos que as nossas mães tivessem também tempo para nos representar num Parlamento ou na Presidência de um País, com as Cotas vamos consegui-lo? Todos queremos ser tratados num hospital de uma forma atenciosa e profissional independentemente da doença que nos leva lá, todos desejamos ser idosos participativos e alvo de tratamento igual independentemente das rugas ou do tamanho das orelhas, queremos com certeza ver cidadãos com muita ou pouca deficiência a ter um papel activo na sociedade da qual são também parte integrante, queremos que os cidadãos com tempo e vontade de nos representar em qualquer Instituição Pública, estejam dotados de todas as ferramentas que lhes permitam trabalhar em prol do bem comum.
Queremos muita coisa e esse desejo conseguimos realizá-lo:
cobrindo o Progresso com a capa dos Direitos especiais, direitos esses fáceis de alterar ou de se perderem, bastando para isso Mudar os representantes do dito Povo,
ou com Educação, muito mais difícil de mudar pois não só cria hábitos como é a fonte da própria cultura de um Povo.
Ensinar o respeito e a igualdade entre sexos, idades, raças, cultos, tamanhos e qualidades.
Transmitir a noção de que o Direito não excede o Dever, dá-lhe sentido, pois é na Igualdade que observamos melhor os nossos deveres assim como é na Diferença que percebemos certamente os nossos direitos.
Todos os direitos são justos, quando iguais para todos!
Assim o que me apraz dizer é nada mais nada menos do que, cada cabeça sua sentença; vivemos de hábitos e se tais hábitos forem os que socialmente queremos transmitir então que sejam os Hábitos a principal Disciplina Académica no Currículo de um Ser Humano e não o Português ou a Matemática, essas virão mais tarde e de uma forma bem mais agradável.
Talvez eliminemos o desespero que leva ao uso da Força e talvez também assim circule a mensagem de tolerância que levará à criação de Hábitos cada vez mais Civilizacionais.
A Consciência não mata a Acção! Modifica-A!