Thursday, September 20, 2007

Comentário ao artigo de Catarina Portas publicado no dia 15/09/07 no jornal Público

Catarina Portas e os livros importantes que leu em França

Ler emancipa a mulher e o homem no sentido em que lhes acrescenta informação para alcançar um determinado objectivo, a informação veiculada nos livros pode conter características expressas de tolerância e harmonia como também ser o portador das raízes de futuros actos de intolerância e violência.
A leitura dos outros não é obrigatoriamente igual à nossa nem tal será tolerável numa sociedade cujos direitos de cada um permitem até escolher a ignorância em vez da cultura e conhecimento (no sentido que for), a escolha de livros em Portugal é marcadamente de carácter profissional, livros escolares ou técnicos, e, em pequeno número, os livros de lazer e de transmissão de conhecimento experimentado na carne e nos neurónios, conhecimento esse que encaminha o pensamento de cada um para diferentes raciocínios baseados nessa absorção da palavra impressa em livro.
Vivo num pequeno território onde cerca de um milhão de concidadãos não sabe ler nem escrever, lugar no mundo onde a informação se faz porta a porta pelos Testemunhas de Jeová ou pelos vendedores do Circulo de Leitores, como será possível afirmar convictamente, como Catarina Portas o faz, que: as aulas de educação cívica são modernices inúteis?
Como se constrói uma civilização sem indicar o caminho (por acção verbal, mental ou física) aos que iniciando o seu percurso activo nos braços da escola se deparam com as novidades experimentais do mundo dos adultos? Então não é educação cívica ensinar-se a ler e explicar a importância da leitura? Então já não leram os adultos os livros através dos quais se poderá indicar o caminho da civilização verdadeiramente humana? Civilização orientada para um verdadeiro respeito para com a felicidade de cada um, seres plenamente responsáveis e conhecedores dos seus direitos e deveres.
Onde está a motivação para comprar um livro ao filho de famílias pobres, de desempregados, as famílias cujo único objectivo é conseguir sobreviver até ao fim do mês sem recorrer novamente ao banco? Essa motivação só é possível encontrá-la em aulas de orientação cívica, cabe aos adultos resolver os problemas das crianças e não culpá-las por não comprarem livros.
"Simplesmente ler", como afirma a Catarina, não nos leva a lado nenhum.