Monday, September 29, 2008

O Capitalismo consome o nosso capital mas apura a nossa criatividade

O Capitalismo é um sistema político caracterizado pela propriedade privada, a posse dos meios de produção e, claro, a acumulação de riqueza, o tal capital, esse que está na base do sistema e sem o qual se torna impossível viver plenamente dentro de um sistema capitalista.
O Capitalismo surge como uma necessidade alimentada pela ganância dos donos do poder absoluto da idade média. A expansão rápida das cidades com a consequente perda de poder dos feudos, a cada vez maior especialização profissional, a necessidade, devido a expansões, conquistas e descoberta de novos territórios, tornam premente a chamada de mais homens para o lado do poder. Distribuição de poder que se fez à custa de militares destemidos, espertos e estudiosos de determinadas áreas do conhecimento, artistas, exploradores, navegadores, pessoas que no princípio do sistema não são mais do que partos dentro do poder, (da monarquia), são aos poucos substituídas, e cada vez em maior número, por pessoas distantes nas origens e cada vez mais afastadas do clero e da monarquia genética.
A expansão capitalista dá-se então por existirem necessidades autónomas dentro do próprio sistema, pois que é do próprio sistema o nascimento da hereditariedade da acumulação e a feroz procura de mais recursos para o capitalista e a sua prole, seguindo, da mesma maneira, as heranças nobiliárquicas por morte dos soberanos, também o sistema capitalista reflecte essa característica de transmissão – o que não for para mim será para os meus filhos.
Como é lógico, o poder corrompe, e corrompe absolutamente, logo aqueles que não são donos do poder mas passam a ser donos de capital não possuem outra alternativa senão colocar esse mesmo poder (dos outros ) em questão e foi o que a burguesia fez e bem. Tal exemplo será eternamente seguido enquanto houver desejos e necessidades e cada vez mais pessoas na máquina industrial e berrantemente faminta do capital.
Adam Smith no século XVIII chamou-lhe liberalismo, que não é mais do que exigir ou ensinar a trabalhar para que cada indivíduo possa, durante a sua vida terrena, aceder livremente ao capital mas não aquele que existe, e sim ao que ele próprio for capaz de promover ou desenvolver.
Chegamos assim à actualidade, - o século da fome zero, - das máquinas de guerra poderosas que conquistam e destroem países por encomenda, - o século da democracia e da tolerância, onde não existe pena de morte e o meu vizinho ama a diferença tão odiosamente, que é odiado amorosamente, - o século da medicina e da tecnologia de ponta que salva cada vez menos mas custa cada vez mais…
Temos então neste século:
A monarquia e seus aristocratas vassalos - poderosos feudos de poder e capital hereditário.
A burguesia da revolução industrial e das expansões marítimas - a usufruir de capitais gerados durante centenas de anos e continuamente aplicados nas proximidades familiares.
Os ricos do sonho capitalista - que mais não são do que acidentes ou clara necessidade mercantilista ou comercial que podem ou não propagar o capital a mais sonhadores como eles.
Os novos-ricos - os que por arte, esforço ou verdadeira inteligência se vêm em pouco tempo donos de capital suficiente para fazer frente aos outros centros de poder. Mas desenvolvem um tipo de poder frágil, perdido em uma geração pois, mesmo sendo tudo possível no liberalismo, requer muitas gerações, o aprender, a manter centros de poder, como são os feudos monárquicos, que asfixiam o que lhes questiona o poder, principalmente o económico.
Agora tendo falado um bocado das origens e tratos do capital pode-se falar do assunto em dia – A falência do 4º maior banco americano, Lehman Brothers.
Esta centenária casa de propagação pseudo democrática de capital, faliu no dia 15 de Setembro de 2008 com a rápida atribuição da culpa ao subprime.
Segundo parece, este “vírus económico”, e esta é uma expressão minha, está há algum tempo para cá, infectando muitas das instituições criadas, cem anos depois da revolução industrial. Nós, homens do tempo actual, não contentes com os vírus biológicos criamos um sistema político e económico capaz de por si só criar vírus tão ou mais destrutivos que os biológicos, como está a ser o caso deste vírus do subprime.
Em 2007 o chairman da Lehman Brothers é citado como sendo o 13º mais bem sucedido chefe executivo de uma empresa multinacional, Richard S. Fuld, Jr. Named to Barron's "The World's Most Respected CEOs" List, isto somente um ano antes de ele próprio declarar falência da instituição, que até aí estava a ser tão bem sucedida no mundo dos negócios, mas isto é o próprio capitalismo – a riqueza cria a necessidade de mais riqueza e é assim para tudo o que é deixado ao critério do ser humano individual, a insatisfação em tudo o que já se obteve., esta é uma fraqueza humana e não económica, só possível de controlar pela união, pelo efectivo desenvolvimento de uma comunidade cujos padrões sociais e económicos sejam de facto geridos por todos e não pelo 1º ou 13º mais bem sucedido chairman de uma qualquer empresa ou, e vem ao caso, partido político.
De qualquer maneira o capitalismo descobriu que existe uma completa ausência de responsabilidade na gestão dos bens que a todos pertence, daí que seja muito fácil, criar, enriquecer e apagar (reformarem-se) gestores, presidentes, executivos, etc,etc, mas sempre longe da justiça dita para os homens pois que no fim, serão os menos poderosos, os tais do sonho, e da vontade de ter uma casinha, que pagarão as hipotéticas falências.
O chairman do Barclays, John Varley, acabou por comprar somente as partes lucrativas do Lehman Brother, ficando muitos dos créditos, principalmente aqueles infectados com o subprime, fora do negócio, o que significa que o prejuízo acumulado e a acumular continua dentro do sistema e alguém, que não o capitalista instalado, vai pagar.
Percebe-se assim dedutivamente que será fácil aumentar a exploração do trabalho assalariado assim como também o dinheiro será mais caro para aqueles que ou têm pouco ou pretendem ter mais.
Vêm aí tempos óptimos para o ressurgimento de antigas teorias económicas e sociais, tempos melhores ainda, para a criação e imaginação de novas propostas sociais e económicas mas também, muita incerteza e as inevitáveis lutas pela manutenção de direitos conquistados e actualmente engolidos pelos estados democráticos e patrões de simpáticos colaboradores (antigamente chamavam-se trabalhadores) com a desculpa da crise mundial e da infecção do subprime.
Muita água vai ainda correr sob a ponte que nos faz sombra e se cada um de nós for uma gota dessa água devemos resolutamente deitar a ponte abaixo, pois é notório que quem lá anda com os pés fora de água são os políticos de um tipo ilusório de poder, os gestores e seus patrões com fragrância de ganância, e pontes assim, muito obrigado mas estamos bem sem elas.